Dizes que sou insensível. Fico a olhar para ti durante largos segundos, sem saber que resposta te dar. Finalmente, uma única palavra escapa-se-me dos lábios: “Porquê?” É uma pergunta simples na sua forma, mas a sua essência é bem mais complexa — Porque é que achas que sou insensível? Porque é que dizes isso assim, como se fosse uma acusação? Porque é que me magoas tão profundamente com as tuas palavras? Porque é que não me conheces o suficiente para saber que essa tua opinião me fere a alma?
“És insensível.” Repetes na mesma voz monocórdica com que o disseste da primeira vez. “Nunca choras, nunca te apaixonas, nunca te comoves nem emocionas. Desapegas-te das coisas e das pessoas, tornas-te insensível.” Outra aguilhoada certeira ao coração. Mas as minhas feições não deixam transparecer a dor que sinto, eu não deixo. Eu sou forte. Forte demais para o meu próprio bem, já me disseram. Forte, seja como for.
“Sai, por favor.” Peço-te, na voz mais calma que encontro, enquanto me sento devagar no sofá de pele escura. Lançando-me um último olhar, tu acedes ao meu pedido, saindo da minha casa e da minha vida para sempre. Sei que te voltarei a encontrar, nos dias seguintes, quem sabe nos anos vindouros… Talvez então eu já não seja insensível aos teus olhos; ou talvez seja. O que tu achas não mais será importante para mim e o que realmente importa tu nunca o saberás…
E quando uma lágrima amarga se liberta e rola pelo meu rosto no momento em que tu bates com a porta, eu limpo-a apressadamente, para evitar que outras sigam o seu rumo. Porque há mais vida depois de ti e eu nunca te deixarei ver-me chorar…
Talvez eu pareça insensível... mas isso não quer dizer que seja.