Como se leva uma estrela para o céu?

"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente." (Fernando Pessoa) Tal como o poeta, também eu finjo, imagino, invento e crio com as minhas palavras...

quinta-feira, junho 22

Entraste de mansinho na minha vida, com esses teus passos suaves de veludo negro. Quando dei por ti, pequenina e de longos cabelos escuros como a noite, estavas já ao meu lado, olhando-me com esses teus olhos que parecem conter a eternidade dentro deles. Prendeste-me o olhar durante um segundo apenas e eu fiquei irresistivelmente apegada a ti, ao teu subtil encanto, à tua tentadora e silenciosa companhia… Ao contrário de outros, nunca te receei, nem te afastei de mim por medo. De facto, por vezes, no meio da confusão diária e do barulho infernal, dava comigo a desejar o momento em que te viesses sentar ao meu lado e me acalmasses o espírito sobressaltado com o teu silêncio confortante. Longas e maravilhosas horas passei contigo… No entanto, ao longo dos anos, o meu mundo foi-se expandindo, o meu coração foi albergando mais gente, e tu, apesar de ainda me fazeres tanta falta como dantes, foste ficando reduzida a um papel secundário. Foi então que conheci o lado da tua alma que sempre escondeste de mim, aquela faceta possessiva e controladora, que exigia mais de mim do que aquilo que eu queria dar… E assim, nestas noites solitárias em que te vejo agigantares-te perante mim (como foi que nunca reparei que tinhas crescido tanto?), tenho-te por minha única companheira, aquela que esteve lá sempre, que foi amiga e inimiga, paz e desalento… Tu, a minha eterna solidão.