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Tu olhaste para mim com um ar confuso. Eu olhei para os teus olhos cor de chocolate, daquele que nós comíamos enroscados no cobertor quando víamos um filme. Olhei para a tua boca, para os teus lábios cheios e rosados que me sabiam sempre tão bem... Só depois de te olhar em pormenor reparei no olhar que me dirigias. Sorri-te. Tu tiraste a mão do volante e pousaste-a sobre o meu joelho. Estava quente. Até mesmo com o frio que estava tu não arrefecias, tu não mudavas. Olhei para a janela sem soltar uma palavra. Lá fora caíam gotas pequenas e luminosas.
De repente, paraste num semáforo e quebraste o silêncio:
- Tu sabes que eu te amo, não sabes?
Sabia, claro que sabia. Mas era sempre bom relembrares-me isso, para eu ter a certeza, embora já a tivesse. Às vezes achava que não sabia, que tu só estavas ali porque... porque sim. Mas depois sorria e pensava "Porque sim não é razão." Eu sabia que tu gostavas de mim e tu também sabias que eu gostava de ti, se calhar por isso é que às vezes nos esquecíamos e sentíamos vontade, necessidade de o relembrar ao outro. Pus a minha mão por cima da tua. Ao contrário da tua, a minha estava fria como o gelo, mas senti-a aquecer (senti todo o meu corpo quente) ao encontrar a tua. Cheguei-me para ti e dei-te um beijo na face, daqueles a que tu chamavas "fofinhos", e respondi-te ao ouvido:
- Mas isso tu já sabes.