Distância
Sinto-te distante… Distante de mim e perdido nos teus sonhos, que transportas nas palmas das mãos com o maior cuidado para que não caiam ao chão e se estilhacem em mil fragmentos de simples vidro, quando nas tuas mãos eram puro cristal. Cuidas deles como quem trata de um bebé, todos os dias os alimentas um pouquinho mais, enrolados em nuvens fofas de algodão, bem alto lá no céu, onde perdes horas e horas a sonhar… Costumo dizer-te que tens a cabeça nas nuvens e é verdade.
Tu tens a cabeça nas nuvens, mas eu tenho os pés no chão. E o chão fica tão longe de ti… Estou sentada na terra húmida da chuva, lágrimas que alguém deixou cair por mim, e fico à espera. Olho o mundo em meu redor, as barreiras que crescem à minha volta e que eu nem sempre tenho forças para destruir… Gostava que tu as derrubasses novamente, como fizeste há tanto tempo, mas tu estás mais ocupado com os teus sonhos, com o teu mundo de nuvens brancas. Demasiado ocupado para te lembrares de mim, aqui esquecida na terra molhada… Oh, como queria que te lembrasses da minha existência, como queria que pegasses em mim nas palmas das tuas mãos e me cuidasses como cuidas dos teus sonhos de cristal, me pousasses numa nuvem e me transformasses no teu futuro… Mas enquanto espero sentada no chão, olhando o mundo que se agiganta à minha volta, sei que tal não é possível, porque a terra onde moro fica a uma vida de distância do céu onde vives…