Hoje recebi uma carta. Ansiei que fosse tua, tal como anseio que olhes para mim cada vez que te vejo na rua. Mas tu nunca o fazes, nunca reparas em mim… Como poderias? Afinal, esses teus olhos azuis do céu parecem conter o mundo dentro deles, parecem querer captar cada pequeno grão de vida, abarcar tudo no seu total. Assim sendo, como poderias focar uma coisa tão pequena como eu? A tua atenção é demasiado vasta para se concentrar apenas numa única coisa, numa única pessoa. Tu queres abraçar a vida; eu queria apenas que me abraçasses a mim, mas os teus braços, tão grandes e tão largos como os teus sonhos, perdem-me e deixam-me esquecida, assim como os teus olhos que não me procuram.
Afinal, a carta não era tua.