Como se leva uma estrela para o céu?

"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente." (Fernando Pessoa) Tal como o poeta, também eu finjo, imagino, invento e crio com as minhas palavras...

sexta-feira, março 31

Não me prendas...



Não, não me abraces;
Não me enlaces nos teus braços para aí me prenderes.
É isso! Não me prendas.
Não me tires a liberdade que eu conquistei;
Não me faças abandonar o Sol e trocá-lo
Por quatro paredes brancas a que chamas amor.
Eu amo o Sol e nunca lhe vi paredes,
Fossem elas de que cor fossem…

Não me prendas.
Não me isoles do mundo para teu exclusivo prazer.
Não me leves para longe da minha vida,
Para que eu só a tua saiba viver.
Não me ates aos teus costumes,
Não me obrigues a tentar fugir de ti…

Não me prendas.
Porque eu sou como uma criatura selvagem,
Que uma vez enjaulada perde todo o seu encanto,
Todo o seu brilho, toda a sua cor,
Ainda que a jaula onde me tenhas posto,
Essa jaula forrada a ouro que nos teus braços encontrei,
Seja aquela a que tu tão pomposamente chamas
Amor

100% Inocente

Quem me dera ter outra vez cinco anos para poder chorar só porque aquele boneco se partiu, para poder correr pelo jardim sem ter pares de olhos esbugalhados em mim. Quem me dera ter cinco anos para poder saltar nas poças de água depois de um dia de chuva, para poder comer doces sem me preocupar com a linha, para poder rabiscar uma folha de papel e ouvir as pessoas dizerem que está lindo. Quem me dera ter idade para amar tudo o que me rodeia, para ver bondade em todas as atitudes, gestos, palavras, olhares das outras pessoas para mim. Que me ter cinco anos para sentir que uma pessoa que eu conheci há cinco minutos é a minha melhor amiga, para me poder sentar como quero sem que fiquem a olhar por se verem as cuecas. Quem me dera ter cinco anos para inventar o meu próprio mundo, com as cores, os riscos, os risos que eu quero, sem nuvens a cobrirem o céu, sem dias cinzentos, sem pormenores pormenorizados, sem pessoas que me tirem o sorriso da cara. Que me dera que tudo fosse fácil como quando eu tinha cinco anos, quando uma pedra era a coisa mais valiosa do mundo. Mesmo que os outros dissessem que era só uma pedra, um simples calhau cinzento, eu não ligava porque para mim ela podia ser uma descoberta, uma casa, um mundo, uma amiga. Mas hoje uma pedra é um simples calhau cinzento. Porquê? Não sei, talvez porque se eu dissesse a alguém que uma pedra era como uma amiga para mim as pessoas iam rir-se e dizer que eu parecia uma criança de cinco anos. Engraçado como as coisas na boca de uma criança de cinco anos ficam tão diferentes quando ditas por uma criança de quinze anos. Aos quinze errar é pecado, aos cinco é virtude.

terça-feira, março 28

Há dias...

Há dias em que o problema não são os outros.
Há dias em que o problema somos mesmo nós.
(E depois, há dias em que o problema são, de facto, os outros.)

quinta-feira, março 23

Bacanas!!!


Braga faz hoje um ano.

As Bacanas fazem hoje um ano.
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Faz hoje um ano que embarquei para uma viagem que nunca pensei vir a ser tão especial para mim como foi. Os ingredientes estavam lançados — um quarto alugado por uma semana numa pousada da juventude na bela cidade de Braga, bilhetes de camioneta comprados com antecedência para não haver imprevistos de última hora, e seis raparigas lançadas à aventura (eu e mais cinco; três delas velhas amigas, as outras duas uma surpresa muito agradável).
A viagem para lá, longa e cansativa, não serviu em nada para quebrar o espírito jovial com que íamos: éramos jovens, estávamos numa cidade diferente, sozinhas e prontas para a party. E os seis dias que lá estivemos foram mesmo uma festa! Apesar da chuva (ou do dilúvio, melhor dizendo), que nos impediu de fazermos metade do que queríamos fazer (adeus Gerês, olá Braga Shopping!), conseguimos dar a volta por cima — passeámos pela cidade, visitámos todas as lojinhas dos chineses :P , fomos à Bracalândia e ao Bom Jesus (se bem que chegámos à pousada encharcadas), fizemos uma directa (okay, confesso, eu adormeci, lool), fomos ver um filme de terror num cinema onde ainda há intervalos a meio do filme, dançámos imenso no Populum (os bracarenses são pouco atrevidos, são...), tivemos um excelente almoço de Páscoa no D.Diogo e, muito importante mesmo, conhecemos a BACANA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Pois é mininas do meu heart, o que passámos ninguém nos tira... Nem as guerras para vos levantar da cama de manhã ("São 10 pó meio-dia, gente, eu vou lá pa baixo que já tou despachada!!"), nem as minúsculas colunas que comprámos para ouvir música como deve ser (quem ficou com elas foi a Joaninha, não foi?), nem as piadas às 3 da manhã ("Sabem o que é um pontinho preto num canto de uma sala? É uma formiga de castigo!", foi excelente, Marisa), nem o concurso de pinturas que vocês fizeram enquanto eu e a Xtina ouvíamos música nas camas de baixo, nem a noite em que eu, a Loira e a Xtina fugimos para a sala de estar da pousada com bolachas e leite com chocolate, nem os almoços às 5 da tarde e os jantares às 10 da noite (alguns em cima da cama da Daisy, apesar de ela proibir expressamente, loool), nem os duches às 5 da manhã e a noite em que nos divertimos a esticar o cabelo umas às outras com a famosa babyliss novinha em folha (ainda a tens, Xtina?), nem a sessão fotográfica na bancada da casa de banho antes de sairmos para a night, nem as longas, por vezes difíceis, conversas em cima da mesma bancada... Tudo isso faz parte de quem somos actualmente, o bom e o mau, os factos e os sentimentos, os risos e as lágrimas. E só vos posso dizer isto, adorei partilhar tudo convosco e não o trocaria por nada.
Por isso, agradeço-vos por tudo, bacanas, amigas, confidentes, companheiras e irmãs. Obrigada por me deixarem fazer parte da vossa vida e por fazerem parte da minha. Obrigada pelo apoio, pela força, pela brincadeira, pelo companheirismo. O meu mundo é um bocadinho melhor porque o partilho convosco. Amo-vos.
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(Da esquerda para a direita: Joana, eu, Daisy, Marisa, Loira e Xtina)

segunda-feira, março 20

Sei-te de cor


Sei-te de cor. Cada traço do teu rosto, cada curva do teu corpo, cada detalhe da tua pessoa. Conheço os teus olhares, os teus sorrisos, os teus suspiros e os teus desejos. Não preciso sequer de abrir os olhos ou de estar perto de ti para te visualizar completamente, ouvir o som da tua voz rouca ecoando nos meus ouvidos em suaves murmúrios, sentir o teu cheiro a pastilhas de mentol e ao perfume que usas desde sempre, ter em minhas mãos novamente os músculos delineados do teu peito e os cabelos rebeldes que te caem para a cara e que tu teimas em não cortar. Nunca pensei que te aprendesse tão bem: dos pés à cabeça, cada sarda, cada tatuagem, cada cicatriz… cada pulsar secreto desse teu corpo vivo e vibrante que desperta mil sensações em mim.
Sei-te de cor. Sei quando estás feliz, irritado, triste e cansado… Sei quando queres ficar só, quando queres conversar, ou quando precisas apenas de alguém que te conforte em silêncio. Conheço todas as tuas expressões e reconheço o momento em que vais usar cada uma delas. Decorei todos os teus hábitos e costumes e aprendi cada uma das frases que não me disseste. Interiorizei cada beijo que me deste, cada carícia que me fizeste, cada toque suave trocado nas longas noites de Inverno… e mato saudades deles quando os saboreio de novo, ao longo de todo o ano.
Sei-te de cor. E por isso, sei também que tu nunca deixarás de me surpreender.

sábado, março 18



It's the heart afraid of breaking that never learns to dance.
It's the dream afraid of waking that never takes a chance.
It's the one who won't be taken that never seems to give.
It's the soul afraid of dying that never learns to live.
Bette Midler, The Rose

terça-feira, março 14

A espera

O telefone tocou e ela correu para atender. Mas, assim que ouviu a voz feminina do outro lado da linha, o seu brilhante sorriso esmoreceu para uma desiludida expressão. Porque seria que ele não ligava?
“Preciso de tempo, depois falamos”, dissera ele dois dias antes, numa mensagem escrita muito sumariamente, uma mensagem que ela recebera como um cubo de gelo no estômago vazio. As coisas estavam tão bem entre eles, tinham passado tão bons momentos juntos… Como podia ele pedir-lhe um tempo, dizendo-lhe que precisava de pensar? Teria ela feito alguma coisa errada?
Desligou o telefone com um suspiro. Ultimamente o seu telemóvel não parava de tocar, mas nunca era quem ela queria que fosse. E isso frustrava-a mais do que tudo o resto. Como detestava esperar! Ainda por cima sem saber o que se passava…
Num acesso de raiva muda, atirou o telemóvel para cima da mesa e afundou-se no sofá, de braços cruzados e cabeça cheia de pensamentos pouco felizes. As boas recordações eram esmagadas pelos medos e receios que cresciam dentro dela, sem que ela os pudesse extravasar. A última coisa que queria era que todos ficassem a saber que a vida não lhe estava a correr bem. Assim sendo, a máscara da felicidade e da alegria caía sobre o seu rosto quando estava com os amigos ou com a família, desaparecendo apenas naqueles momentos em que se encontrava sozinha e sem nada para fazer, alturas essas em que começava a pensar.
“Mentes desocupadas têm muita imaginação”, costumava dizer a sua mãe.
Ela começava a achar que a sua mãe tinha razão, pois nesses momentos, que eram cada vez mais frequentes, imaginava de tudo, desde ele não lhe responder às várias mensagens porque lhe faltava o dinheiro, até ele ter pedido o tempo para evitar acabar com ela de forma brusca. Sim, porque a ex-namorada, com quem ele andara durante imenso tempo, era ainda uma sombra bem presente e ela temia que ele, naquela ausência a que a forçava, tivesse uma recaída e decidisse terminar tudo com ela para voltar para a ex. Afinal, fizera o mesmo para ficar com ela.
Nada era definitivo até conversar com ele, na segunda-feira seguinte (parecia que ainda faltavam séculos), mas custava-lhe, no silêncio da sua solidão, ter sido apenas uma diversão das férias, uma escapatória à rotina que era a vida dele. E agora, uma vez a Páscoa e as férias acabadas, ele voltava à sua vida e ela ficava de novo sozinha, isolada, esperando, esperando sempre…
Esperar era terrível. Criava uma sensação de impotência face ao que ia acontecer, como se ela não pudesse fazer nada a não ser limitar-se a esperar. Esperar pela segunda-feira seguinte, esperar por um telefonema ou uma mensagem dele, esperar pela conversa que ela não tinha a certeza de querer ter, esperar pela decisão dele…
“Tenho pensado muito”, era como começava a mensagem que ele lhe tinha enviado, na quinta-feira. Em que pensaria ele? Ao dizer-lhe aquilo, sem no entanto especificar o assunto, deixara-a receosa, curiosa, confusa… Ela limitara-se a seguir a corrente em que ele a pusera, com mensagens doces, conversas longas e beijos apaixonados. Só que ele agora parecia querer quebrar a corrente, manter-se à parte, afastar-se. Pelo menos era o que ela depreendia daquela sintética mensagem telefónica. Por isso queria tanto falar com ele, saber o que se passava, perguntar-lhe o que tudo aquilo queria dizer… Apesar disso, tinha respondido à mensagem com outra igualmente curta “Tu é que sabes. Na segunda falamos.”
No entanto, roía-se por dentro, querendo que segunda-feira chegasse depressa, que eles resolvessem logo as coisas, pois a espera era insuportável. Ainda assim, só podia limitar-se a isso mesmo, esperar.

sábado, março 11

Amigas

domingo, março 5

Gostava de ser diferente

Gostava de ser diferente. Gostava de ser perfeita, mas tu gostas das minhas imperfeições. Até dizes que as amas. Eu não te compreendo, não sei o que queres dizer quando dizes “as tuas imperfeições são perfeitas, pois com elas te deitas e com elas te levantas.

quinta-feira, março 2

Tristes histórias...

Escrevi tristes histórias ao longo do tempo. Histórias minhas, pessoais e intransmissíveis, que não partilhei com ninguém. Mágoas escritas a tinta negra sobre o papel claro que se tornou a minha vida… Linhas e linhas escritas com a caneta escura que marca a impossibilidade de se voltar atrás. Pergunto-me agora porque não escrevi antes a lápis, para poder apagar os erros passados e escrever histórias mais felizes que me fizessem sorrir ao relembrá-las e não chorar estas lágrimas solitárias de arrependimento amargo… Mas será um arrependimento assim tão grande, este que é o meu? Questiono-me. Quereria eu histórias belas e fantasiosas que tornassem a minha vida repleta de ilusões? Ou preferiria eu as minhas tristes histórias, tão tristes como uma noite sem estrelas, mas tão reais, tão verdadeiras, tão minhas!? Porque estas histórias fazem parte de mim, são fragmentos da minha alma e não pertencem a mais ninguém. São quem eu sou e trouxeram-me até aqui e até agora. E por isso não as esqueço nem as troco, a estas tristes histórias minhas…